domingo, 25 de março de 2012

CONTOS DO CONTADOR CANTANTE


PESSOA.

Andei por caminhos já andados e caminhados, hoje com andadores diferentes, mas amigos do coração.

Passamos por curvas, serras, céu azul, até chuva choveu.

Entre quaresmeiras que enfeitavam todo o percurso comecei a pensar em Fernando, sentindo uma saudade muito profunda, pensamento célere rompeu a distante eternidade, e meus olhos, coração, ouvidos percorriam o infinito.

Vou até a casa de Fernando, não a de Assis, nem de Simões, me perdoem, amigos queridos.

Mas à casa de Pessoa, lá por trás os montes. Ouvir o sussurro do Tejo, o tocar dos sinos, o perfume do alecrim.


Pessoa, Pessoa, onde? Onde encontrar-te?

Onde estás, por acaso, a Guardar os Rebanhos de Caeiro; ou

Desassossegado entre as páginas do livro de Bernardo?

Pessoa ouviste quando nas curvas da serra, na estrada de terra te procurei?

Ouviste minha voz, sentistes que chamava a ti?

Teria Campos ou talvez Reis te mostrado os caminhos de Minas?

Explica-me qual a razão desta saudade, da lembrança. Estavas ali, entre as montanhas a observar árvores, pássaros e até corujas?

Quem me levou a ti? Álvaro, Ricardo, talvez Alberto, quem sabe Soares.

Tantos outros, tantos poemas escritos, não escritos, pensados, não pensados.

Cantastes para Ofélia seus lindos versos, teria ela recebido flores, encantos e contos?

Fostes conosco contornando a serra, entre amarelos, verdes de várias tonalidades, até Piedade? Viste Petrônio pedindo Claudia em casamento e lhe dando a Lua de presente? Márcia e Miriam procurando por ti entre um arbusto e outro?

Riu conosco, percebeu quando encheram-se de lágrimas os meus pensamentos?

Magia, pura magia, Pessoa estiveste ali presente e ninguém sentiu, só eu, somente eu.

Nieta Ede – Barbacena, 25 de Março de 2012

FOTO: https://www.google.com.br/search?q=fernando+pessoa